sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

11 DEZ 2020 - Um Bilhete Com Asas

Hoje o texto não foi feito por mim, mas foi feito para mim! E por uma pessoa muito especial e querida: Nelson Barros.

Tomei a liberdade de buscar uma foto na web de um chão forrado de flores de jambeiro "fúcsia". Mas um dia, na próxima florada do jambeiro do Casa dos Meninos Passarinhos, estarei lá para registrar in loco e substituir essa. 

Flores de jambeiro (Syzygium jambos) caídas sobre o chão, formando um grande manto cor-de-rosa
autor: Luan Faitanin Volpato (Wikimedia Commons)

Nelson é um amigo virtual e meu escritor preferido, parece que ele escreve com palavras que habitam a minha mente e o meu coração. Seus textos me fazem viajar voando pelo mundo, sem tirar os pés do chão. As cenas que ele tão bem descreve desfilam pelos meus olhos fechados como num sonho. 

Pura delícia poder virar a manhã dessa sexta-feira lendo este "bilhete" dele postado pra mim quase na hora do almoço. A "manteiga" aqui escorreu pelo chão... derreti inteira. 

Um dia essa casa dos "Meninos Passarinhos" irá receber essa passarinheira aqui. Irei pendurar um quadro de uma das minhas fotos preferidas de passarinhos em suas paredes. Essa amizade que nasceu na web irá um dia nos permitir sentar na varanda e comemorar muito, com muitos abraços, carinho, cerveja geladinha e muita conversa boa e boba, jogada fora. 🐤🐣🐥

Algumas fotos gentilmente enviadas pelo Nelson para compor este post, mostrando a casa na praia do Sagi no Rio Grande do Norte.

O Sagi é aqui (foto by Nelson Barros)

Mas chega de blá-blá-blá e vamos ao texto do Nelson:

Um Bilhete Com Asas (por Nelson Barros)

"Menina passarinho,
Faz tempo que eu queria te contar essa história.
Quando a gente decidiu construir a casinha do Sagi, eu tinha visto um filme, muito bom por sinal, que se passava no México e onde as casas tinham nomes, ao invés de números.
Era sobre Frida Kahlo e o nome da casa era “La Casa Azul”, que foi onde nasceu e morreu e que hoje funciona como museu.
Bonito, não ?

A casinha azul (foto by Nelson Barros)

Foi por isso que escolhemos a cor da nossa, que é abraçada por um cajueiro e um jambeiro. O cajueiro a deixa animada por sagüis e você não faz ideia do tapete que o jambeiro faz no solo, quando flora. A cor é linda, sabe? Chama-se “fúcsia”.

Jambos (foto by Nelson Barros)

Flores de jambeiro (Syzygium jambos) caídas sobre o chão, formando um grande manto cor-de-rosa
autor: Luan Faitanin Volpato (Wikimedia Commons)

Pois então, quando a casa ficou pronta, os amigos começaram a nos presentear e adivinhe?
Quase todos os presentes eram pássaros.

Minha irmã Olga me deu dois azulejos de Oscar Fortunato, pintados com um pássaro e uma gaiola, aberta, claro; Guto desenhou um pássaro com um poema; Vinicius e Patricia nos deram um pássaro azul do pintor paraibano Clóvis Junior, que ficou logo na porta da entrada e deu aquela cara de proteção.
A gente tinha trazido dois delicados pássaros de porcelana de uma viagem à Espanha. Estão fazendo companhia a um São Francisco em posição de Buda, que ganhamos de Caio e Nadja fez uma serigrafia onde dois pássaros assumem o lugar de guardiãs.

O São Francisco Buda e os dois passarinhos que ele trouxe da Espanha (foto by Nelson Barros)

Tem passarinho de artesanato pendurado na goiabeira; estampado num pequeno pote onde guardamos açúcar; numa xilogravura de J. Borges e bordado num paninho de prato português.
Assim, pensamos que nossa casa seria a “Casa dos Passarinhos”.

Mas aí aconteceu uma coisa engraçada: as pessoas da comunidade a “batizaram” primeiro. Elas começaram a chamar de “A casa dos Meninos” e isso foi muito agradável. Voltar a ser menino, te confesso, me encheu de alegria. Creio, de fato, que está me acontecendo pela primeira vez. Isso porque fui uma criança velha, sabe? 

As pessoas diziam: “esse menino amadureceu no carbureto”. E lembro perfeitamente que não gostei muito daquela fase da vida.
Mas dessa, estou gostando. E muito. 

Tem um ditado americano que diz: “The Postman Always Rings Twice”. O carteiro sempre toca duas vezes. É algo como uma segunda oportunidade.
Pois aconteceu isso com o menino que eu pensei ter desperdiçado na infância.
Ele tava ali, guardadinho, esperando para ser usufruído.

Quando um monte de gente da minha idade começou a sentir dores nas articulações e ter pedras nos rins, eu fui andar de bicicleta, tomar banho de rio e morar numa casa azul, azulzinha da Silva, rodeada de plantas e recheada de pássaros, dessas que a gente desenha quando ganha uma caixa bem sortida de lápis de cor.

Cheguei nesse mundo velho como uma árvore. Agora, ficando velho, estou de passareio e não me sinto mais perdendo a viagem.
Enquanto alguém puder ver um menino - ou um passarinho - em mim, a vida está valendo.

Faz tempo que eu queria te contar isso.
Certamente não é mera coincidência, que tenha decidido fazê-lo nesse momento tão difícil que estamos atravessando, presos em nossas gaiolas.

Quando tudo isso passar, aguardo sua visita no Sagi. Tem uma receita de caipirinha de maracujá com água de coco, que nosso amigo Luiz Mascaranha me ensinou e que estou louco pra preparar para os amigos. Aliás, uma das coisas boas de ser menino nessa fase da vida, é que agora a gente pode beber da “água que passarinho não bebe”. Hehehe.

Pois bem, aqui me despeço.

O menino passarinho que mora em mim bate asas feliz para a menina passarinheira que bate asas em você.

Para Silvia Faustino Linhares"

Ilustração: Menino Pássaro Escritor.
Escultura em tecido de 
Thalyta E. Vasconcelos Almeida

Trilha Sonora

La Llorona - Chavela Vargas

Prelúdio Pra Ninar Gente Grande (Menino Passarinho) - Luiz Vieira

Pássaro Sem Ninho - Luiz Melodia
 

 Bigorrilho - Paquito, Romeu Gentil e Sebastião Gomes - com Jair Rodrigues
 

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