domingo, 10 de janeiro de 2021

10 JAN 2021 - A quaresmeira do meu jardim


"03/01/99 11:30h
Minha motivação básica para 1999: Ser feliz (sonhadora) e estar em paz (pacifista).
Meus desafios para 1999: Aceitar a dor e o sofrimento como partes naturais da vida; desenvolver a força de vontade para não parar diante do primeiro obstáculo; cultivar a atenção e o amor incondicional; enfrentar o caos com serenidade; cultivar a fé nas pessoas e, acima de qualquer coisa, fazer tudo aquilo que eu tiver vontade... "

O que? 1999? Sim, achei esse texto aqui impresso e resolvi transcrever esse trechinho dele. Estava entre os muitos e-mails que imprimi e guardei numa caixinha velha. Porque nesse confinamento está sobrando muito tempo para abrir as caixinhas, rever seu conteúdo e jogar fora as coisas que não tem mais nenhum valor ou significado especial. A mesma coisa que ando fazendo com o meu coração.



Sim, eu sou uma jovem senhora que guarda coisas velhas, como papéis, sonhos e outras centenas de coisas, muitas inúteis, outras nem tanto.

Eu sou do tempo que inicialmente se escreviam cartas de papel. A caligrafia era então utilizada em lindos papéis de carta decorados com florzinhas, coraçõezinhos, bichinhos, etc. A gente até fazia coleção, hoje tudo foi substituído por emojis, sticker e outras figurinhas eletrônicas. 

Depois vieram os primeiros correios eletrônicos. Com o advento dos e-mails tudo mudou, as pessoas foram se distanciando e dando menos espaço para os abraços e até para as ligações telefônicas. De lá pra cá as redes foram se ampliando até chegarmos ao Messenger, WhatsApp, Direct, etc. Basta um clique, um emoji e estar online pra se sentir parte... parte de que mesmo? Ah! Tá, do ilimitado mundo virtual.

Mas voltando ao teor do texto inicial. Esse texto foi o finalzinho de uma mensagem para desejar um feliz ano de 1999, final de milênio, cujo ano seguinte - 2000 - se esperava que fosse apocalíptico, suscitando medos e profecias catastróficas e o famoso bug do milênio, drama que não se concretizou. Ufa! Sequer esperávamos que esse ano apocalíptico chegaria, mas com um 2 substituindo um dos 0.


A mensagem em questão foi passada quando eu morava em Brasília para um amigo muito querido e precioso na época, mas infelizmente, por razões alheias à minha vontade, a existência dele foi engolida pelas areias do tempo e nunca mais tive nenhuma notícia. Éramos colegas de Caixa, chegou a ser meu chefe inclusive. Talvez em outra encarnação a gente se reencontre e se reconheça dessa nossa breve passagem.

Mas qual a importância desse texto agora? É porque ele fala muito do meu jeito de ser ainda hoje, mesmo tendo passado mais de duas décadas. Aqueles desafios listados ainda se fazem presentes dentro de mim, porque são desafios diários.

Hoje eu vejo que a parte mais difícil daquela lista é aceitar a dor e o sofrimento como partes naturais da vida e manter a fé no ser humano.

Hoje acordei muito cedo e como sempre faço, abri o celular e comecei a ler aqui e acolá. Contabilizei mais de 5 amigos sofrendo com a partida de entes queridos por causa do Coronavírus. E no país mais de mil mortes por dia em média nesse começo de ano, por conta do maldito vírus. Meus olhos encheram-se de lágrimas e sob o calor das cobertas, senti elas escorrerem pela minha face, numa dor incomensurável. Aí me perguntei: como enfrentar esse caos com serenidade? 

Então me levantei, abri minha janela, e dei de cara com os botões da quaresmeira começando a se abrir, implorando para serem admirados. 

Parei e respirei fundo. Embora todos os anos ela floresça, mesmo assim cada florada é única e exclusiva. Assim como cada dia da nossa vida. 

minha janela


Foi olhando para as flores que habitam minha morada que eu consegui enxergar as flores que habitam meu coração e me deixei alegrar um pouco. Essa bela quaresmeira está comigo desde que me mudei para cá em 2003. 



Quando ela me vê assim tristinha, sempre me mostra suas flores ou traz para seus galhos um lindo passarinho, que ao lado da minha janela se põe a cantar para minha tristeza espantar. 

Passarinhos da "minha quaresmeira"

Corri e peguei a câmera e fotografei um montão, (a foto mais bonita foi feita após a chuva forte que caiu por aqui e abre esse texto).

Diante de sua imagem na minha tela, resolvi escrever este texto para ela.

Para "minha quaresmeira".

"Menina simples que, com exuberante floração,
Traz para os meus olhos uma beleza notável,
E cores mágicas que encantam meu coração...

Rainha do meu jardim ... 
Sobrevivente de tantas intempéries e tempestades,
Resiste ao frio, calor e às saudades ...
E até a fortes ventos ...um alento...

É maravilhoso ver o que, ao mesmo tempo
Que refloresce para nos festejar,
nos ensina a sermos fortes e resilientes 
a transbordar tudo que temos por dentro ... 
E fazer tudo para a vida continuar." 


* Quer saber um pouco mais sobre a quaresmeira (Tibouchina granulosa) clique aqui 

Segue uma linda canção que traz seu nome Quaresmeira e é interpretada por Anelis Assumpção

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