terça-feira, 23 de março de 2021

23 MAR 2021 - O pequeno pardal e uma história cheia de emoção

Dia 20/03 foi o Dia Mundial do Pardal - O World Sparrow Day foi criado pelo ornitólogo indiano Mohammed Dilawar e é celebrado desde 2010. O pardal (Passer domesticus) é um pássaro que pode ser encontrado em quase todo o mundo, mas o declínio de sua população é motivo de preocupação em alguns lugares. Além do pardal comum, existem outras 24 espécies de pardais, algumas das quais encontram-se ameaçadas.


O pardal tem sua origem no Oriente Médio, entretanto este pássaro começou a se dispersar pela Europa e Ásia, chegando na América por volta de 1850. Sua chegada ao Brasil foi por volta de 1903 (segundo registros históricos), quando o então prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, autorizou a soltura deste pássaro exótico proveniente de Portugal. Hoje, estas aves são encontradas em quase todos os países do mundo, o que as caracteriza como uma espécie cosmopolita. Essa ave tem se expandido pelo espaço rural e, em alguns casos, prejudicado a produtividade agrícola. Seu nome científico significa: do (latim) Passer = pardal; e domesticus = de casa, doméstico. ⇒ Pássaro doméstico, ave que habita as casas.
(Fonte: Wikiaves)

O pardal faz parte da infância de quase todos os brasileiros. Foi citado em verso e prosa, música, participou de filmes, etc. Não é colorido, nem tem um canto atraente. Por isso nunca foi alvo de gaioleiros. 

Abaixo trailer do filme Missão Cegonha, que conta a história do pardalzinho Rick, que após seus pais serem mortos quando ainda estava no ovo, é encontrado por uma cegonha, que o cria como se fosse seu filho. Rick cresce seguindo os costumes de postura e alimentação típicos de uma cegonha, mesmo que sua aparência deixe bem claro que não se trata da mesma espécie. Quando o bando decide migrar para a África, Rick é deixado para trás por não ter estrutura física para uma viagem longa. Entretanto, ele não se dá por vencido e inicia uma jornada por conta própria. Vale cada segundo assistir o filme (tem no You Tube).

 

 Pardais que eu já vi pelo mundo 👇

Chile

Uruguai

África do Sul

Brasil

Mesmo assim suas populações vem declinando, talvez pelo domínio de outras espécies no local, ou por lhe faltar telhados de casas para fazer ninho, ou por ação de agrotóxicos, falta de áreas urbanas verdes, etc. Não se sabe ao certo. 

Mas embora não fosse alvo de gaiolas, era alvo da garotada, que competia para ver quem acertava mais "tiro" de estilingue (badoque, atiradeira, baladeira, etc) no pobre bichinho. 

Na minha infância em Presidente Prudente/SP, meninos com estilingue era tão normal quanto homens portarem armas, meu pai e meu avô possuíam armas calibre 38, popularmente chamadas de "treisoitão". E meu irmão tinha seu estilingue, feito de forquilha de árvore e tiras de câmara de ar de pneus. Meu avô materno era quem fazia o artefato pra ele.

E meu irmão, mais velho do que eu, reunia-se com a meninada do bairro para "caçar" pardais. Usavam o estilingue com pedras ou mamonas. De vez em quando o corpo da gente virava alvo, recebíamos a sapecada no traseiro, costas, coxas ou canelas e eles corriam se esconder da fúria que nos assolava em seguida.

Um dia eu os vi acertando um pardal. O bichinho caiu perto de onde eu estava brincando. Na hora que ele caiu, eu corri e o peguei em minhas mãozinhas. Eu devia ter uns 5 anos. Ele já estava estrebuchando, eu o acariciei na esperança que ele ficasse bem. Nisso os meninos, curiosos, me rodearam, e o pardalzinho perdeu sua vida em minhas mãos. Comecei a chorar, e após colocá-lo no chão, parti pra cima dos meninos, com socos e pontapés. Ele ficaram sem reação, uma por eu ser menina e pequenina, outra porque meu irmão estava junto. Não revidaram, mas apanharam muito. 

Eu lembro de chorar copiosamente. Para me acalmar, um deles sugeriu fazermos o enterro no jardim da minha mãe. E assim fizemos. Colocamos o pardal numa caixinha, fizemos o cortejo fúnebre, cada menino com seu carrinho, eu fui na frente com o caixão (uma caixinha improvisada) sobre um dos carrinhos do meu irmão. 

Assim, feito gente grande, em meio a orações infantis na tentativa de redenção, realizamos o enterro do pobre pardalzinho. Um dos meninos fez uma pequenina cruz, que colocamos sobre o túmulo com flores que apanhei no jardim da minha mãe. 

Ficamos todos muito tristes, e confesso, nunca mais vi os meninos atirarem nos passarinhos, pelo menos na minha frente. R.I.P. pardalzinho. Mas as pernas da gente continuaram alvo por muito tempo. 

Pardais de norte a sul, de leste a oeste do Brasil

Eu e meu irmão quando pequenos 


Esse é o começo da minha história de amor pelos pássaros. Perceba que o meu amor pelas criaturas do reino animal remonta a minha mais tenra infância, vivida na rua Visconde de Cairu em Presidente Prudente/SP.

E foi assim que eu tive meu primeiro contato com as aves, sem sequer imaginar que muitos (e bota muitos aí) anos depois eu viria me tornar uma grande observadora e fotógrafa de aves. (grande mesmo, com 1.70 cm de altura). 

Nesses 10 anos como observadora, apesar de passar várias fases diferentes durante meu aprendizado, o meu amor pelas aves, que começou no coraçãozinho daquela criança, ficou mais forte ainda. 

Hoje, estar em comunhão com a natureza, seja atrás de buscar uma nova espécie, uma raridade, uma boa fotografia, ou mesmo admirar um sanhaço ou sabiá laranjeira na arvore da minha janela em plena selva de concreto, me faz voltar no tempo e ficar em contato com aquela menininha emocionada, que um dia acariciou um pardalzinho morrendo em suas mãos. 

Esse é um dos motivos que resolvi visitar escolas rurais, e conversar sobre aves com crianças. Espero continuar fazendo isso após a pandemia. Pois é o único jeito de tentar mudar os maus costumes em relação às aves adquiridos por elas com seus pais e avós, chamado de cultura, infelizmente. Se eu puder deixar um pouquinho dos meus sentimentos, crença e fé para esses meninos, já me sinto recompensada nessa existência.

Maraú/BA junto com o guia Nido" Macaco" Cafezeiro


Mas vamos lá, no dia do Pardal (20/03), o meu amigo Guto Carvalho fez uma "palette" com uma foto minha de pardal, mal sabia ele que isso ia me tocar profundamente. Foi uma surpresa e tanto ver meu nome no post que ele preparou.

by Guto Carvalho

Foto feita no autódromo de Nova Santa Rita/RS

E por conta disso que eu acabei de falar, num impulso convidei pessoas de um grupo para fazer uma homenagem a essa graciosa ave. O grupo Olha o Passarinho (wapp), tão bem conduzido pela nossa querida ibitipoquense Teca Resende, respondeu prontamente. 

Confesso que, montar esse vídeo foi uma das experiências mais gostosas que tive nos últimos tempos. Agradeço o carinho de todos que contribuíram com fotos, textos, ou com brincadeiras no grupo, animando e muito esses dias sombrios. Acreditem, estou realmente muito feliz em poder levar às pessoas a necessidade de valorização de todas as aves que cruzam o nosso caminho, seja um lindo e cobiçado "lifer" (nova espécie avistada), uma raridade de tirar o fôlego ou um simples pardalzinho. 

Nossa natureza pede socorro. Ela precisa muito de nós para se manter. Espero que aproveitem o máximo o lindo vídeo abaixo! E, ó, não deixem nunca de plantar uma sementinha. Ela pode transformar-se em algo grandioso e transformar o mundo.

     


CRÉDITOS NO VÍDEO
Grupo "OLHA O PASSARINHO"
Edição de Vídeo: Silvia Faustino Linhares

Fotos (ordem alfabética): Bryan Ballack, Clarisse Odebrecht, Daniela Maia, Davi de Paula, Fausto Araújo, Fred Santos, George Strozberg, João Ferreira Santos, José Dionísio Bertuzzo, Kenny Uéslei, Luiz Fernando Moura, Maria de Maria, Miguel Magro, Olício Cassimiro da Silva Jr, Paulo Serafim, Rita Carvalho, Sergio Trevisan, Silvia Faustino Linhares, Suzete Stipp, Tassio Perotti, Teca Resende, Thiago Zanetti, Tiago Ricardo, Victor Castanho e Vitor Rolf Laubé

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Teca Resende - Administradora do Grupo Olha o Passarinho
Davi de Paula - auxílio técnico
Bryan Balack - auxílio técnico
Guto Carvalho - Palette Avistar 

Fundos musicais: YouTube Audio Library
"Old MacDonald - The Green Orbs"


#diamundialdopardal
#sparrowday
#worldsparrowday 
#diamundialdelgorrion
#wereldmussendag 
*
F I M


10 comentários:

  1. Boa noite, Silvia, interessante como uma experiência na infância nos move e no seu caso, para uma missão de Amor aos pássaros. Parabéns também pelo trabalho com as crianças, bjs!!!

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  2. É a Rita Carvalho, do grupo Olha o Passarinho, ok?

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    1. Oi Rita, que bom que informou, ele não mostrou o nome e eu respondi com cortesia, como sempre faço ... valeu minha amiga. Mais uma vez super obrigada. Pelo comentário e participação no vídeo comemorativo.

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  3. Que linda sua história de amor pelas aves. O seu trabalho com as crianças da zona rural é muito inspirador. Tão logo for possível quero fazer o mesmo. Foi uma grande honra para nós do Grupo OLHA O PASSARINHO ter esse vídeo editado com todo o seu carinho. Sou sua fã!!! Você é um grande exemplo para todos nós! Fique à vontade para propor novas atividades ao grupo. Serão muito bem recebidas!Beijo nesse coração cheio de amor pelas aves!!!

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    1. Obrigada querida Teca, eu só posso agradecer seu apoio, carinho e dedicação com esse grupo tão diverso e divertido. Obrigada também por participar com lindas fotos.

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  4. Linda história. Me emociono pois sempre me achava “fora do ninho” por gostar tanto destes lindos seres alados. Comecei amando um pequeno pintinho que virou uma linda galinha.

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    1. Obrigada querida por comentar e participar comigo nessa. Espero que as pessoas nunca deixem de amar as aves comuns por causa de um lifer. É como deixar de amar as pessoas próximas pra cultuar apenas os grandes artistas de cinema.

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