domingo, 24 de maio de 2020

24 MAI 2020 - Do you wanna dance?

 Relato de uma fotógrafa de passarinho em isolamento - 24/05/2020



Virginianos acordam com metas diárias preestabelecidas. Eis as minhas para esse isolamento (extremamente racionais e bem planejadas):

1 - acordar, criar coragem pra sair da cama, ir pra cozinha e preparar um substancioso desjejum,
2 - após o café, 30 a 40 minutos de esteira,
3 - fazer 50 minutos de exercícios,
4 - fazer almoço e deixar a cozinha arrumada, 
5 - dar uma geral no apartamento,
6 - estudar inglês (sem "embromeixam"),
7 - abstrair a cabeça (qualquer coisa que seja descompromissada),
8 - dormir pelo menos 8 horas e ter sonhos profundos, de preferência coloridos, 
9 - e nos intervalos, rede, rede, rede (falo das redes sociais kkkkkkkkkkkk - eita vício incorrigível). 

Ocorre que hoje não teve jeito, a razão, mesmo depois de argumentar, foi obrigada a abrir espaço para o coração. Eu tinha terminado o item 2, já estava quase começando o 3 e, eis que ao invés de fazer os exercícios musculares, resolvo simplesmente me por a dançar. Troquei de roupa, coloquei um vestido leve e comecei a ensaiar alguns passinhos, há muito guardados em cima de um maleiro imaginário. 

Aos poucos comecei a rodopiar, enquanto desafrouxava os braços e as pernas. Os sentimentos começaram a se alinhar ao som de uma velha música, que foi tema do filme Dança Comigo, onde o ator Richard Gere causou muito no imaginário e corações femininos com seu personagem. ("Do you wanna dance?"). 

Do you wanna dance under the moonlight?
Love me girl all through the night

Baby, do you wanna dance?


Os pensamentos atravessaram a distância e o tempo. Um feitiço sem explicação. Quase maquiavélico. 

Um rosto se materializou na minha frente. Emoções contidas vieram à tona. Lembrei do nosso último encontro, dos beijos trocados, do seu jeito sem jeito, romântico e enamorado. Embalada pela doce música, eu fechei meus olhos e sincronizei os meus passos ao compasso das batidas imaginárias do teu coração. 

Rodopio e, durante a espiral, lembro da delicadeza dos teus braços a me enlaçar de maneira tão especial. Sinto você me olhando, pedindo um último beijo, só mais um, "de 17 minutos". 😅😅😅😅😅😅😅😅 

Atravesso a ponte do tempo e as lembranças me põem a flutuar pelo céu, sob a luz da lua, única testemunha das nossas emoções. Para meu espanto, sinto meus pés levitar, saindo do chão, sob o efeito da embriaguez daquilo que um dia chamei de paixão. Quisera ter me perdido no carinho dos teus abraços e nunca mais ter me achado. 

A música termina, mas meu desejo de rever você não. Coisa deste maio vinte-vinte, deste outono tão frio, abstrato e sem fragrância, que freou nossas vidas e nos sucumbiu a tantas distâncias. Talvez sentimentos de uma virginiana com ascendente em leão. Ou apenas fruto de uma paixão. Sei lá. Mas até lá, só me resta pedir: não deixe a semente do esquecimento germinar. Se cuida, tenho certeza que um dia nossos caminhos irão de novo se cruzar. 

PS: - Ser modelo, fotógrafa, diretora, bailarina, escritora, criadora, criatura e tentar se divertir sozinha não é algo muito fácil, mas é uma boa experiência e fez minha lente 10-22 mm sair do armário. Ela disse que estava cansada de ser preterida pela 100-400 mm, a lente-mor dos passarinhos.

*
*
*

Nenhum comentário:

Postar um comentário